sexta-feira, 17 de abril de 2020

Zico relembra sua carreira como jogador de futebol.


Arthur Antunes Coimbra foi um dos maiores jogadores da história do futebol mundial. Mais conhecido como Zico, ele fez história no Flamengo, na Seleção Brasileira e em clubes do exterior.
Seu talento permitiu que se tornasse não só um ídolo dos rubro-negros, mas de torcedores de todos os clubes do país. Hoje, aos 67 anos, o Galinho, como também era chamado, permanece no futebol, agora atuando fora de campo, como diretor técnico do Kashima Antlers, após um período como técnico em clubes e seleções do exterior.
E nesta terça-feira (14), Zico concedeu entrevista exclusiva à Equipe dos Galáticos. Ao vivo, na Itapoan FM, o ex-jogador relembrou a carreira, comentou sua relação com a Bahia e analisou o futebol atual.
Confira o bate-papo abaixo:
Você tem noção de como é querido e idolatrado na Bahia?
Engraçado que fui mais à Bahia quando ainda não era ídolo do Flamengo. Depois, fui poucas vezes. Tenho noção pelo carinho que a gente recebe através das redes sociais. As poucas vezes que fui aí depois de ter parado de jogar, percebi esse carinho das pessoas. É sinal de que valeu a pena tudo que fiz na minha carreira.
Você foi um dos grandes cobradores de falta da história. O que sente, hoje, ao ver poucos gols de falta no nosso futebol?
Nasci com um dom, mas treinei muito, depois que cheguei na categoria profissional. Sou muito grato a um ex-goleiro do Flamengo, que jogou no Bahia, o Renato. Quando eu subi, ele viu que eu tinha dom para bater falta. Ele me chamou para treinar com ele. Quando acabava o treino, treinava com ele. Assim comecei e ele foi muito importante. Foi quem me deu a maior força. Quando me tornei titular, comecei a treinar, pelo menos, 70 a 100 faltas duas vezes por semana. Fui me aprimorando e quando chegava a hora do jogo era como se eu estivesse em treinamento. Hoje, falta muito isso. É tanto preparador, tanto auxiliar…o cara diz que quando acaba o treino é melhor não se cansar. Hoje falta treinamento para que os gols de falta aconteçam.
Sua saída do Flamengo, em 1983, para a Udinese-FLA, foi muito sentida pela torcida. Hoje, o que você pode falar sobre aquela negociação?
A gente primeiro tem que pensar que naquela época existia a lei do passe. Hoje, você escolhe para onde quer ir, seis meses antes de terminar o contrato pode fazer um pré-contrato com outro clube. Naquela época, ainda não existia isso. Se o clube dissesse não, era não. Naquela época, para ter passe livre, eu precisaria ter 10 anos de clube e 32 anos de idade. Se eu renovasse, completaria dez anos de clube e dois anos depois faria 32 anos de idade. O presidente, Dunshee de Abrantes, muito vivo, viu que era a hora de ganhar algo comigo. Eu não queria sair, tentei ficar, mas ele quis a negociação, não tive muito o que fazer.
Não ter sido presidente nem técnico do Flamengo foi uma opção pessoal?
Foi escolha total minha não ser presidente nem técnico. Ainda tive uma passagem por lá, em 2010 (como diretor), que foi traumatizante, pois envolveu família. Foi bom passar aqueles quatro meses lá para ter a certeza que não tenho como ocupar qualquer cargo no Flamengo. Só posso ajudar do lado de fora.
E sobre a Seleção Brasileira, qual análise você faz da geração de 1982, da qual fez parte com nomes como Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates, Roberto Dinamite e Júnior?
Foi uma geração maravilhosa, que apresentou o verdadeiro futebol brasileiro. Independente de ter ganho ou não a Copa, ficou marcado na história. Guardadas as devidas proporções do que era jogado no futebol daquela época para o que é jogado hoje, a qualidade dos jogadores era indiscutível. Era um futebol já tático, que trazia muitas emoções.
Os craques daquela equipe teriam condição de jogar em alto nível no futebol de hoje?
Teriam, com muita facilidade. Na nossa época, quando chovia, o uniforme pesava três, quatro quilos, as chuteiras precisavam ser amaciadas, as bolas não eram como as de agora, os campos não eram bons como os de agora, os clubes não tinha estrutura de primeiro mundo, como os de agora. Então, temos que ver por esse lado também. Imagina aquele pessoal, com aquela inteligência, aquele futebol, com tudo que tem hoje no futebol. Seria brincadeira. A geração de hoje, também com a qualidade deles, poderia se adptar àquela época, mas não iria ter toda essa estrutura que tem hoje.
E o Flamengo campeão da Libertadores e Mundial em 1981, é possível fazer comparação ao time de Gabigol, Bruno Henrique e Cia?
As diferenças são muitas, principalmente na estrutura de trabalho. Naquela época, o clube tinha uma estrutura ruim, atrasava salário. Fomos campeões treinando em campo society, pois deu uma praga no campo do Flamengo. Segundo, o Flamengo não gastou nada com a gente, pois a maioria era da base. Esse time de agora foi investido. O Flamengo gastou uma fortuna, muito bem gasta, para montar esse time. São jogadores espetaculares. Agora, uma coisa os dois times tiveram em comum, uma vontade enorme de ganhar os jogos, uma disposição muito grande em campo. Se faz o segundo gol, quer buscar o terceiro, o quarto. Mas, as diferenças são muitas.
E sobre sua carreira de técnico, nunca teve o sonho de ser treinador da Seleção Brasileira?
Eu paguei pela língua, pois em nenhum momento pensei em ser treinador de futebol. Depois, optei por ser treinador de futebol no exterior. Eu não dirijo nenhum clube do futebol brasileiro e nem nunca dirigi, então acho que não posso ser treinador da Seleção Brasileira. Isso nunca me passou pela cabeça. Hoje estou diretor técnico do Kashima e também não passa pela minha cabeça voltar a ser treinador de futebol.
Porque você acha que os técnicos brasileiros, hoje, não têm oportunidades nos grandes clubes do futebol europeu?
Primeiro, enquanto o Brasil não voltar a ter uma conquista mundial, isso vai ter uma interferência muito grande. Quem ganha, entra na  moda. Mas, o que mais a gente sente é uma falta de brasileiros não na Europa, pois nunca houve tanto. O que me preocupa é que o mercado árabe, africano, onde o brasileiro sempre teve muito espaço, esses espaços foram perdidos. Mas, quando o Brasil ganhava muito, o mercado brasileiro era muito solicitado. O Brasil precisa ganhar de novo uma Copa.
E sobre o futebol atual, acredita que teremos mudanças após a pandemia do coronavírus?
Não acredito. As coisas, como estavam funcionando, em relação a isso, estavam funcionando bem. Nada disso que aconteceu foi proposital. Agora, todos estão tentando dar sua contribuição para que tudo termine o mais rápido possível. Acho que o esporte, o futebol, pode continuar da mesma forma.
Por fim, você como maior ídolo da história do Flamengo, qual análise faz de Gabigol, atleta mais querido desse atual elenco?
Relação ótima. Até coloquei um canal no YouTube, o Zico10, e logo que ele chegou foi fazer entrevista comigo. Passou a mão na minha perna e disse que era para pegar um pouquinho de gol (risos). Mas, gol ele sabe fazer. É um jovem muito bem centrado, muito equilibrado. Passei a ter uma outra impressão dele, com relação ao que a gente via de longe. Ele está comprovando ser um dos grandes ídolos da história do clube. Tem que entender que a responsabilidade cada vez mais aumenta, as pessoas esperam muito dele, então tem que estar preparado para corresponder.

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